Esta obra foi selecionada para o Festival Multicultural (2020), produzido pelo Conselho Municipal de Política Cultural de Blumenau. O Festival faz parte do Prêmio Emergencial de Cultura Leide Regina de Liz, que recebeu 75 inscrições, do qual 39 trabalhos foram selecionados.
Entre os dias 11 de novembro e 10 de dezembro de 2020, aconteceu o Festival Multicultural Blumenau On-line, que apresentou 39 produções locais nas áreas da Música; Teatro e Circo; Artes Visuais, Design e Moda; Biblioteca, Literatura e Livro; Cinema e Vídeo; Cultura Popular e Artesanato; Comunicação e Formação em Cultura; Patrimônio Material e Imaterial; e Museus e Espaços de Memória.
O evento foi gratuito, aberto à toda comunidade e exibido nas redes sociais do Conselho Municipal de Política Cultural de Blumenau: www.facebook.com/cmpcblumenau e www.youtube.com/cmpcblumenau
Com olhos de fogo e pelo branco, Anhangá caminha imponente pela mata como Suasu-Anhangá – sua visagem de cervo branco. Ele é o Guardião das Florestas, Senhor das Matas e Protetor dos rios e animais. Se quiser adentrar sua mata para caçar, é bom pedir permissão, e deixar uma oferenda de fumo de corda. Venha bem intencionado, porque Coatiba (a Floresta) é sagrada. Ele proíbe caçar fêmeas com filhotes, ou matar por diversão. Pode se apresentar em muitas formas: Mira-Anhangá – visagem de gente; Tatu-Anhangá – visagem de tatu; Tapiira-Anhangá – visagem de boi, entre outras aparições. Floresta em pé e preservada, essa é a vontade de Anhangá.” Anhangá - do Tupi "Ahiag̃" e do Mawé "Anhang, espírito" - é um Guardião das Florestas, uma lenda tão antiga que não se pode precisar sua origem no tempo. Habita e protege os animais nas florestas de Pindorama, atual Brasil, estando presente nas culturas Tupinambá, Mawé, entre outros povos originários.
Câmara Cascudo em seu "Dicionário do Folclore Brasileiro" (Editora Ediouro, 1954)¹ cita que os padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega já mencionavam o ser encantado em suas cartas. Desde há muito se diz que pôr os olhos em Anhangá traz febre e até mesmo loucura a quem o viu. Cascudo cita ainda que tamanho era o respeito que os povos originários reverenciavam a Anhangá, que o povo Boe (etnia bororo habita a região do cerrado até a Bolívia há 7 mil anos ¹ ) não flechava o veado campestre conhecido como Suçuapara (veado dos chifres tortos). Cascudo cita ainda que entre a população 'mestiça' que trabalhava na extração da borracha, havia o respeito ao Dia da Caça: "(...) Nas tardes e noites das sextas feiras, havendo luar, o caçador via aparecer um veado branco com os olhos de fogo capaz de mastigar o cano da espingarda como se fosse cana-de-açúcar".
O fato é que em todas as suas visagens, todos os contos que narram seus encontros com o caçador, Anhangá assume força e forma empoderada da justiça encantada que protege os animais e pune a sanha e malvadeza cinegética³. Frente aos fogos que em 2020 seguem consumindo as florestas brasileiras nos biomas do Pantanal, Cerrado e Amazônia, conduzo minha pesquisa visual com foco nos Guardiões das Florestas. Tendo ilustrado duas outras lendas pré-coloniais, Kuru'pir (Curupira) e Caapora (Caipora), chega Anhangá que assume no papel sua forma Suasu-Anhangá, o cervo branco com olhos de fogo.
¹CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 10ª edição, Ediouro, Rio de Janeiro, s/d, ISBN 85-00-80007-0
²Fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Bororo
³Cinegética: (substantivo feminino) a arte da caça, esp. da caça com ajuda de cães.
Direção e edição: Tatiane Hardt
Pesquisa, texto e argumento: Tatiane Hardt
Projeto “Guardiões das Florestas”
Obra: “Anhangá”
Autora: Tatiane Hardt
Técnica: Aquarela e nanquim sobre papel
Ano: 2020
Materiais:
- Papel mix media Canson 300g/m²
- Aquarela Faber Castell
- Caneta nanquim pigma micron sakura
- Caneta Unibal Signo dourado